Sonho realizado

Em maio realizei um dos meus maiores sonhos: ver ao vivo um show de um ex-Beatle, o Paul McCartney. Quem me conhece um pouco sabe o quanto sou fã e venero os Beatles. Assim, já sabem que me é impossível escrever qualquer coisa sem paixão ou com algum distanciamento para se fazer uma análise minimamente racional. Então desisto desde já desse caminho e vou partir para o caminho da emoção, que foi o que me dominou naquele show.

Na mais do que excelente companhia de Andreza, minha esposa, e minhas primas Júnia e Eloísa, fui para show com muita expectativa e, ao mesmo tempo, com uma curiosidade enorme sobre qual seria o repertório. Até porque era o primeiro show da turnê Out There então o repertório era só especulação. A ansiedade só ia aumentando à medida que nos aproximávamos a pé do Mineirão. À volta do estádio já se podia sentir um pouco do clima do show: milhares de pessoas com camisas dos Beatles e até uma dupla com trajes no melhor estilo Sergeant Pepper’s. Como era de se esperar, a faixa etária do público ia literalmente dos 8 aos 80, prova da influência que os Beatles ainda exercem mesmo passados mais de 40 anos do fim da banda. Entrada razoavelmente tranquila no estádio após uma fila e lá vamos nós. Diga-se de passagem, não houve nada de desabonador para a organização do show, que, apesar das mais de 50 mil pessoas, correu sem problemas da chegada à saída.

Por maiores que fossem as minhas expectativas, fui surpreendido pelo Paul do começo ao fim. Em primeiro lugar pelo repertório. Tocou clássicos obrigatórios dos Beatles ou de sua carreira solo, como Hey Jude, Let It Be e Maybe I’m Amazed. As surpresas do repertório ficaram por conta de músicas menos conhecidas – aquelas que só beatlemaníacos como eu conhecem – tal como Let Me Roll It ou Mrs. Vanderbilt. Mas a maior surpresa ficou por conta de duas faixas do legendário disco Sergeant Pepper’s, Lovely Rita e Being For The Benefit of Mr. Kite, essa última uma composição muito identificada com John Lennon. Muita emoção para um fã ver e ouvir tudo isso ao vivo.

O segundo ponto que surpreendeu foi a simpatia do Paul com o público e toda reverência dedicada aos mineiros ao se esforçar para falar expressões como “trem bão, sô”. Vale destacar a homenagem feita no palco para as moças que encabeçaram o movimento “Paul, vem falar uai!” e que recolheram milhares de assinaturas para trazê-lo à BH. Paul definitivamente conquistou o público com seu jeito simpático e, apesar dos cartazes do público de “thank you, Paul”, ele fez questão de agradecer todo o tempo pela vibração da plateia. Outro ponto curioso do show foi a singela reverência ao seu lendário baixo Hofner, que o acompanhou nos Beatles e depois. Homenagem mais do que justa pelo músico que reinventou o som do baixo no rock ao seu instrumento mais emblemático.

Por fim, a última surpresa foi a longa duração do show (quase três horas sem intervalos) e como Paul conseguiu chegar ao final com a voz inteira. Quase não acreditei quando, após mais de 30 músicas, ele mandou a plenos pulmões a pesada Helter Skelter. Haja garganta. E o fim foi glorioso, com a notória trilogia Golden Slumbers/Carry That Weight/The End, que encerra o último álbum de estúdio dos Beatles, o Abbey Road. Nada mais apropriado para fechar o espetáculo.

Eu poderia até falar de algumas coisas não tão boas do show, mas a cada dia que passa elas vão perdendo a relevância e só consigo me lembrar das boas e da emoção de ver um dos meus ídolos maiores ao vivo. Passados quase dois meses ainda corre um frio na espinha ao me lembrar do Mineirão lotado cantando Hey Jude ou do estádio com as luzes apagadas e a arquibancada transformada em um céu estrelado pelos celulares durante Let It Be. E enquanto escrevo esse texto as lágrimas vêm aos olhos só de me lembrar da energia do show e da vibração do público. E não resta mais nada a dizer a não ser “thank you, Paul”. Obrigado por esse momento inesquecível.

“And in the end, the love you take is equal to the love you make.”


E pra quem quiser ler um texto bacana sobre o show, valeconferir nesse link o que o blogueiro oficial do Paul, Stuart Bell, escreveu sobre BH e Goiânia.

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