Janeiro e suas mulheres revolucionárias


Acompanhei, ao longo do mês de janeiro, várias reportagens que, no conjunto, me chamaram a atenção para o fato de esse mês estar ligado a quatro mulheres incríveis e revolucionárias.

Nara Leão nasceu no dia 19 de janeiro e em 2012 completaria 70 anos. Sempre será considerada como a musa e a voz feminina da bossa nova, o que por si só já lhe valeria o título de revolucionária. A bossa nova nasceu, no Rio de Janeiro, em reuniões de jovens e um dos pontos tradicionais era o apartamento dos pais de Nara. Assim, ela esteve ligada às origens desse importante movimento musical que projetou a música brasileira para o mundo. Esse destaque, porém, não fez com que ela deitasse sobre os louros ou se acomodasse na fama. Nara fez parte também de outra vanguarda importante na MPB, a Tropicália, que fundiu a música brasileira com o rock. É um caminho um tanto quanto interessante: levou a MPB pra fora e voltou com aquilo que acontecia no mundo.

Se o 19 de janeiro marcou o nascimento de uma musa, foi também a despedida de outra, a inesquecível Elis Regina, cuja morte completou 30 anos em 2012. Elis foi outra inquieta revolucionária, que sempre apostou em fórmulas novas. Conhecida por seu faro para grandes músicas, Elis ajudou a lançar jovens compositores como Renato Teixeira, João Bosco e Fagner, o que é louvável, vindo de uma cantora consagrada, que poderia se aliar somente a nomes já estabelecidos. Além disso, Elis foi única. Dona de uma voz inigualável e de uma capacidade incrível de expressar emoção nas suas interpretações, creio que não deixou seguidoras, mas sim uma grande lacuna na MPB, que demorou a ser preenchida. 

Essa data de 19 de janeiro tem mesmo alguma magia. É também a data de nascimento de Janis Joplin, um dos maiores ícones do movimento hippie e da psicodelia do final dos anos 60. Assim como Elis, Janis também conseguia colocar uma emoção muito forte na sua música. Conhecida como rebelde desde a sua adolescência, Janis logo largou a faculdade e partiu para San Francisco, onde foi destaque em um momento muito importante do rock e protagonizou apresentações históricas, como a que aconteceu no festival de Monterey, em 67, além do mítico Woodstock, em 69. 

Rita Lee não nasceu em janeiro, mas foi por muito pouco: 31 de dezembro. Não aguentou esperar um dia. Nesse mês de janeiro de 2012, porém, ela anunciou a sua aposentadoria dos palcos. Disse que o físico não suporta mais, mas deixou claro que se aposenta dos shows, mas não do rock. Rita foi outra rebelde e revolucionária. Além de ter estado na vanguarda da MPB junto ao movimento tropicalista - quando fazia parte de Os Mutantes -, na sua carreira solo abriu um caminho quase inexplorado no rock brasileiro: o da mulher roqueira. Não sei de quem é a frase, mas me lembro de ouvir dizer que, se Raul Seixas foi o pai do rock brasileiro, Rita Lee com certeza é a mãe. Felizmente, ela avisou que ainda tem material inédito para vários álbuns. O rock’n’roll agradece. 

Quanta coincidência para um só mês! Nara Leão, Elis Regina, Janis Joplin e Rita Lee, quatro mulheres emblemáticas, ligadas por um mês também emblemático, pois é ele que abre um novo ano. Pelo visto, o janeiro tem algo de musical. E de feminino também.

(Texto publicado no Jornal das Lajes, Fev/2012)

Comentários

  1. Legal. Pode ser coincidência, mas como sou de janeiro também vou preferir a ideia do mês emblemático rsrsrs.

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  2. A Nara foi da bossa nova ao samba do morro.
    A Elis ia do desespero ao deboche com a mesma galhardia.

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